Em países como Nova Zelândia, Inglaterra e Estados Unidos, utilizar cães de pastoreio é uma tradição nas atividades rurais. Porém, no Brasil, ainda é recente, com as primeiras importações de animais com este fim datadas a partir da década de 1990, impulsionadas, principalmente, pela escassez de mão de obra provocada pelo êxodo rural, movimento que tende a se agravar ainda mais nos próximos anos.
Tratando-se de condutores de rebanho, a raça mais difundida nacionalmente é o Border Collie. Ao contrário do que se pensa, ele causa mínimo estresse, quando comparado ao manejo convencional, segundo o zootecnista Rafael Rodrigues, proprietário do Canil Pastores do Cerrado e da Cabanha M.R.J.
Bons cães de pastoreio são capazes de antecipar movimentos, conduzindo o rebanho com grande agilidade. Possue esta capacidade porque utilizam uma pressão psicológica sobre os bovinos, posicionando-se em locais adequados, não se importando com a distância necessária, até que se cumpra o objetivo desejado.
O treinamento é essencial, embora nasçam com a habilidade de “arrebanhar” em sua genética. Os exercícios, normalmente, começam a partir de um ano de idade, com duração de até oito meses, em média, dependendo do nível de qualificação do treinador. Os comandos baseiam-se em diferentes tons, em inglês ou português, dos quais os mais básicos são: “comebay” (esquerda), “away” (direita), “laydown” (deita), “walk-up” (em frente), mas podem ser modificados para facilitar a dicção do condutor.
Cães de pastoreio trabalham por dois funcionários
A introdução do Border Collie, nas propriedades, ainda enfrenta gargalos culturais, porém tal paradigma vai se quebrando ao considerar que um bom condutor e seu cão executam o serviço de manejo de dois funcionários. Além disso, quando comparados aos encargos trabalhistas, os custos com a aquisição de um animal devidamente treinado, cerca de R$ 10 mil, retornam em alguns meses, com a vantagem de permanecerem ativos por longo tempo.
“Cada vez mais a pecuária necessita de condutas mais sustentáveis, convivendo em simbiose com o meio ambiente. Além de prevenir ataques de onças, cachorros-do-mato e demais predadores selvagens, os cães também intimidam possíveis invasores. Neste caso, os animais de guarda tornam-se indispensáveis, protegendo não só a “matilha” lanada ou deslanada, mas também o território”, afirma o zootecnista.
Treinamento
Cães de guarda como o Pastor Maremano Abruzês (originário da Itália, no ano de 100 a.C.) não precisam de treinamento, desde que tenham procedência de trabalho, bastando apenas criar o filhote junto do rebanho. É uma fase decisiva para que desenvolvam um vínculo com os animais, o chamado imprinting. Vale ressaltar que, quanto menos contato com as pessoas, mais eficientes serão em suas funções.
O ideal é deixá-los em um lugar fechado com o rebanho até que complete a interação e depois soltá-los, aos poucos, em piquetes menores. O mais adequado é a formação de matilhas, que podem ser com um macho e algumas fêmeas ou apenas machos, sendo um inteiro e os demais castrados para evitar brigas de hierarquia.
Redução de custos na criação de ovelhas
A quantidade de cães é pensada de acordo com o tamanho do piquete e também do rebanho. Quanto maior for a área, mais cães serão necessários ao perímetro. Para efeito de curiosidade, um cão adulto é capaz de percorrer até 12 quilômetros por noite.
Na ovinocultura brasileira, tem-se o costume de prender as ovelhas para dormir no curral, com a intenção de protegê-las da predação noturna. Esse hábito eleva os custos de produção porque leva ao investimento em instalações, aumenta o manejo e 40% da alimentação das ovelhas ocorre à noite, o que acarreta custos. Com a introdução dos cães, elas permanecem no pasto em tempo integral, com menores chances de serem predadas ou roubadas.