A utilização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 como arma político-ideológica pelo governo federal foi duramente criticada por diversos setores da sociedade brasileira. De entidades a políticos e, principalmente, cidadãos comuns nas redes sociais, houve uma grande revolta contra os ataques perpetrados através da prova – que deveria medir o conhecimento dos alunos – a um setor que puxa a balança comercial brasileira para cima.
O agronegócio responde, sozinho, por 24,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até o presente momento em 2023, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). E ainda é responsável por disponibilizar alimentos para 800 milhões de pessoas em todo o mundo, conforme estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgado em 2021.
Reação da sociedade
A Rede Nacional de Agricultura Irrigada (Renai) afirmou que repudia o “triste episódio apresentado na Prova do ENEM 2023, realizada neste domingo (05), na questão número 81, no Caderno 2 Amarelo, que retrata negativamente o setor do agronegócio brasileiro, apresentando o tema de forma leviana e que, de maneira desinformada e enviesada, confunde os alunos que estão fazendo a prova e a sociedade como um todo”. A Renai ainda informou que recorrerá “aos Poderes Executivo e Legislativo para que os responsáveis sejam identificados e que se retratem junto ao setor para que afirmações levianas como essa não ocorram novamente”. A questão referida é a exposta abaixo (número 89 no caderno branco do Enem 2023):
O deputado Zucco avisou que vai convocar o ministro da educação petista, Camilo Santana, para prestar esclarecimentos na Câmara dos Deputados sobre a ideologização do Enem e solicitar a anulação das questões que atacam o agronegócio, o qual, enfatizou o deputado, é composto pela agricultura familiar, pelos pequenos, médios e grandes produtores.
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A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) afirmou que, em respeito “à justa avaliação do nível de conhecimento dos estudantes que concluíram a educação básica, o Ministério da Educação (MEC) precisa anular as questões 70, 71 e 89 da prova aplicada ontem (5 de novembro), pois elas apresentam a moderna produção agropecuária brasileira de forma absolutamente equivocada, pejorativa e descolada de embasamento técnico-científico, induzindo estudantes ao erro e criando desinformação sobre uma atividade essencial para a sociedade brasileira”.
A Abag disse ainda que, após estudo da “Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade vinculada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), que analisou 9 mil páginas de 94 livros de editoras que fornecem material didático ao MEC”, foi revelado que “88% das menções ao agronegócio são autorais, sem embasamento científico”. A entidade afirma também que, por essa razão, “mais do que anular as questões, o MEC precisa esclarecer à sociedade como pretende interromper esse ciclo de desinformação” e diz que vai “mobilizar outras entidades setoriais, universidades, pesquisadores e educadores para propor apoio ao MEC na atualização do conceito de agronegócio no banco de questões utilizado na elaboração das provas do ENEM e demais materiais didáticos distribuídos pelo governo federal”.
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A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também se manifestou em nota, afirmando que “aguarda posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre questões de cunho ideológico e sem critério científico ou acadêmico dispostas no Exame Nacional do Ensino Médio, prova de admissão à educação superior, aplicada pelo Ministério da Educação no último domingo (5)”. E disse ainda que “o ENEM é um exame de avaliação do conhecimento. As perguntas são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica e permite que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista. Anulação já!”
Na sequência da nota, a FPA ainda traz dados sobre o agronegócio e acusa o governo petista de propagar “negacionismo científico contra um setor que (traz) segurança alimentar ao Brasil e ao mundo”. E diz também que “este é o único país do globo em que o seu próprio governo federal propaga desinformação sobre a principal atividade econômica e de produção de riqueza, renda e empregos”.
Muita ideologia e pouca ciência
A prova ainda elogiou Paulo Freire, considerado pela esquerda como o patrono da “educação” brasileira, que é umas das – se não a – piores do mundo segundo diversos índices de medição educacional; falou sobre a existência de um suposto “racismo estrutural” no Brasil em uma de suas questões, citando um texto da Carta Capital, um jornal on-line comunista e pró-governo, como referência para a sua elaboração; teceu críticas ao capitalismo; e falou sobre “aquecimento global” como se isso fosse um consenso científico (não é), dizendo ainda que a “solução” a esse “problema” é “controlar as emissões de carbono”.