Coluna Do pasto ao prato, escrita pelo Médico-veterinário e sócio-proprietário da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas-Rocha, Fernando Velloso
Prefiro temas que surgem espontaneamente. O bom assunto vem desta fonte natural, como água de nascente. Essa premissa gera problemas de calendário entre o escritor e a editora, pois os prazos existem, independente se a água é de nascente, vertente ou poço artesiano. Estiquei a corda do fechamento quase no limite. Aí percebi que Assessoria em Leilões nunca foi abordada neste espaço, apesar de trabalharmos na área. Há coisas que nos parecem tão óbvias que acabamos não falando. O que é óbvio pra mim, talvez não seja pra ti. Repetem-se, assim, falhas de comunicação, outro assunto que me intriga bastante. Pressupomos que o outro sabe, entendeu ou está inteirado do que eu não informei. Fala-se muito no “feedback”, mas ele também não é tão fácil ou simples. Alguns pedem e o querem. Outros pedem só por hábito. Não o querem.
Escrevi “Corretor de gado? Não, muito caro” (fev/2017). Nesse texto, trouxe considerações sobre o intermediário ou corretor de gado, figura tão presente em nossa pecuária do RS. Tentei reunir informações sobre o trabalho desses profissionais, as suas atribuições, as praxes do mercado, as críticas ou a má imagem da classe através das expressões “picareta” ou “brique”. Cito também, superficialmente, o trabalho de assessorias especializadas na comercialização, em especial de reprodutores, ou na formação de rebanhos ou plantéis.
Realizamos assessoria em leilões faz mais de 15 anos. Digo que realizamos, porque não faço sozinho. É um serviço de nossa empresa e trabalhamos em equipe. Há pessoas que usam o plural referindo-se a si mesmo. Eu, quando uso plural, me refiro a mais pessoas. Talvez o Velloso apareça mais, pois sou mais afeito à comunicação, à mídia, às transmissões de leilões… mas é um serviço que aprendemos e desenvolvemos em conjunto. O colega Dimas Rocha, desde o princípio, pensou e se preocupou muito para que esse serviço fosse bom e a atividade tivesse vida longa.
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Iniciamos por demanda do mercado. Já faz anos que alguns criadores nos pediram assessoria aos seus leilões. Na época, não sabíamos o que tinha de ser feito nem como cobrar por isso. Mas, se nos buscavam é porque viam em nós o perfil para o trabalho. Então, fizemos para aprender. Aprender fazendo costuma dar certo. Muitos ensinam o que não fazem, mas isso pode ser tema para outra coluna. Melhor não.
A história que se conta e que não nomina os personagens fica mais pobre. Vou me lembrar de alguns criadores que nos lançaram na atividade. Sei que vou falhar em não citar todos, mas isso é o ônus de quem escreve. Em 2008, quem primeiro nos contratou foram a Casa Branca (MG) e a VPJ Pecuária (SP). Logo, um grupo que promovia o leilão Prime Angus na Feicorte: Fumaça, Ponderosa, Casa Branca e convidados (3E, HR, Feliz, Eco Angus, Espinilho, Santa Mathilde, FSL, Reconquista, Terra Costa, Rincon del Sarandy e VPJ). Naquela época, já constava a nosso logo na divulgação e no catálogo como assessoria do leilão. O nosso trabalho sempre foi de conhecimento público. Nunca fomos favoráveis ao “agente oculto”. Isso só funciona em filme de espionagem. Já fomos convidados a trabalhar somente nos bastidores, sem aparecer publicamente. Lógico que não aceitamos.
Ainda em 2008, iniciamos em alguns remates no RS, entre eles o Paipasso & Parceiros, em Livramento, praticamente só com Red Angus e Red Brangus. Em pista: 250 reprodutores e com transmissão do Agro Canal (960 MHZ – Polarização Vertical). Em 2009, merece agradecimento a indicação de Luis Muller para que fôssemos contratados pela GAP Genética. Iniciamos, naquele ano, e trabalhamos com eles até hoje. Além do selo GAP ao nosso trabalho, passamos a atuar mais com outras raças (Brangus, Hereford e Braford). Nos anos seguintes, fomos ganhando mais clientes e importantes leilões em nossa jornada.
Revisando a pasta (D:)> FIRMA >Assessoria_Leilões, curti até um saudosismo abrindo catálogos antigos, fotos das revisadas de lotes e mapas de remates. Em 2010, já eram cerca de 20 remates e até iniciamos na Argentina, assessorando investidores brasileiros a participarem no Remate Três Marias. Na época, as pistas de exposições, o gado de argola e as faixas dos grandes campeões eram referências importantes. Passamos a assessorar de 20 a 25 leilões por ano até 2017 ou 2018. Depois diminuímos o ritmo. Seguramente já foram mais de 250 remates até os dias hoje. Aprende-se fazendo; a repetição fixa o conteúdo.
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A assessoria em leilões inicia no planejamento do evento, definição da oferta, preparação do catálogo, divulgação, contato com possíveis compradores e centrais de inseminação, etc. e, especialmente, na busca de conhecimento e domínio sobre o produto, para poder bem informar e orientar os interessados. No dia do leilão, somos parte da força de trabalho e da força comercial para que o famoso “pista limpa” seja verdade e não somente um chavão. Com a continuidade do trabalho, a participação vai além: na avaliação dos resultados, na melhoria contínua, na discussão do programa de seleção dos reprodutores, no atendimento das novas necessidades do mercado, etc.
No pós-venda, a assessoria é também apoio para a resolução de eventuais problemas. Nosso produto é vivo e perecível. Problemas diversos podem ocorrer, desde transporte, mortes súbitas, acidentes na estação de monta, problemas reprodutivos, etc.
Este texto era para descrever o trabalho de assessoria em leilões. Acabei indo pelo caminho das memórias da nossa trajetória em leilões. Temos muito orgulho de termos aberto esse mercado nos taurinos. Iniciamos a nossa empresa com o nome de “Assessoria…” para depois pensarmos num nome melhor. Tudo foi dando tão certo que o nome virou parte da nossa atuação. Ficou assim mesmo.
Mas, Velloso, assessoria em leilões é mais técnico ou comercial?
O trabalho requer conhecimento técnico para a sua realização, mas o objetivo final é a comercialização. Produzimos reprodutores para venda. Se essa premissa não é verdadeira, eu desconhecia. Sei que muitas pessoas veem conflitos entre o trabalho técnico e o comercial. Não fazemos parte desse grupo. Há quem ache “feio” o comércio. Dizem em tom ofensivo: tal pessoa é muito comercial. Verdadeiramente, eu não consigo entender. Salve o autor da frase: Vendas curam tudo!
Em tempo: se o leitor receber uma mensagem nossa, informando que estamos assessorando um leilão, não estranhe. Estamos somente trabalhando.