Coluna Glauber em Campo, escrita pelo produtor rural, presidente da Câmara Setorial da Soja e da Associação de Reflorestadores do MT, e diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira.
Durante o 1° Congresso da Abramilho, foi realizado um painel internacional para responder à seguinte pergunta: “Biotecnologia: o mundo pode se alimentar sem ela?”. O painel foi moderado pelo presidente da Comissão de Cereais da CNA, Ricardo Ariolli, e por integrantes da Aliança Internacional do Milho (Maizall), composta pela Abramilho, Asociación Maíz y Sorgo Argentino (Maizar), além de U.S Grains Council e National Corn Growers Association, ambas dos Estados Unidos.
O painel contou com a presença do presidente da Maizall, Federico Zerboni, do presidente da Maizar, Pedro Vigneau, do vice-presidente da U.S Grains Council, Cary B. Sifferath, da diretora da National Corn Growers Association, Sarah McKay, e do diretor da Abramilho Bernhard Kiep. Os participantes foram unânimes em dizer que, com a população mundial podendo chegar a quase 10 bilhões de pessoas até 2050, somente com a biotecnologia aliada às boas práticas de manejo das lavouras voltadas para o aumento da produtividade será possível disponibilizar alimento para a população.
O presidente da Maizall teceu comentários sobre o comércio internacional do milho, destacando as incertezas em razão da possível retração econômica mundial e da guerra na Ucrânia e suas consequências para o mercado global. Sendo a Ucrânia o quarto maior exportador, a guerra e a demora na abertura do canal de exportação de grãos podem gerar o desabastecimento de milho, sobretudo em países menos desenvolvidos.
A diretora da National Corn Growers Association chamou a atenção para as dificuldades criadas pelo governo do México a partir da proibição das importações de milho geneticamente modificado. Na prática, o decreto torna-se inviável, uma vez que o México importa, anualmente, 17 milhões de toneladas, principalmente dos Estados Unidos, e não há, no mercado, esse volume de milho convencional.
O México importa 17 milhões de toneladas, e não há no mercado esse volume de milho convencional
O presidente da Maizar, Pedro Vigneau, comentou que esse é um problema que não afeta apenas os Estados Unidos, mas todos os países que produzem com biotecnologia, uma vez que compromete a segurança do uso de OGMs sem apresentar qualquer comprovação científica para isso. Além do mais, os importadores mexicanos não pagam qualquer adicional por essa exigência. Dessa forma, o país não encontrará o milho convencional para abastecer suas enormes necessidades e isso prejudicará o abastecimento interno e os consumidores mexicanos.
O vice-presidente da U.S Grains Council lembrou que a Maizall realizou uma missão para o México que contou com encontros de representantes das indústrias e produtores de ração animal. Também há um temor generalizado quanto ao aumento nos custos e no desabastecimento. O receio é que essa decisão do governo mexicano possa trazer uma retração econômica com impactos para toda a cadeia de proteína animal do país.
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Ainda dentro dos pilares da atuação da Maizall está o convencimento dos países da União Europeia quanto ao uso da biotecnologia e dos Limites Máximos de Resíduos (LMRs). Federico Zerboni comentou sobre a missão da Maizall para a União Europeia, em março deste ano, que visitou a OMC, o parlamento europeu e os produtores rurais. Ele destacou que, apesar do Pacto Ecológico Europeu e das diretrizes do Farm to Fork, os produtores têm interesse em utilizar a biotecnologia e o plantio direto, porém perderiam subsídios do governo.
O diretor da Abramilho Bernhard Kiep lembrou que os produtores brasileiros correm o risco de terem um aumento significativo no custo de produção em razão da possível suspensão de quatro defensivos importantes no combate às doenças, numa conjuntura em que não existem substitutos eficazes. Isso poderá baixar a produtividade e elevar os custos. Somado às proibições de produtos, o Brasil ainda enfrenta duas legislações que servirão de barreira aos produtos brasileiros na União Europeia: o Due Diligence do Desmatamento e a Pegada de Carbono na Fronteira.
O Due Diligence do desmatamento, recém-aprovado pelo Parlamento Europeu, estabelece medidas de mitigação da entrada de produtos provenientes do desmatamento. Os países serão classificados de acordo com o risco-país para desmatamento: baixo, padrão ou alto. Essa classificação irá definir qual a porcentagem de cargas que serão fiscalizadas na entrada do Bloco Europeu, sendo 1% para baixo risco, 3% para médio e 9% para alto risco de desmatamento. Os produtos afetados são soja, gado, cacau, café, madeira, borracha e óleo de palma. O milho chegou a entrar na lista proposta pelo Parlamento Europeu, mas foi retirado.
A diretora da National Corn Growers Association chamou a atenção para o fato de que é preciso ressaltar as práticas já adotadas pelos países da Maizall que favorecem o sequestro de carbono, além de que os Estados Unidos estão trabalhando internamente para a criação de um mercado doméstico de carbono.
O moderador Ricardo Ariolli sugeriu uma mensagem final sobre a importância do milho para a sociedade e para a economia. Então, o presidente da Maizar se referiu ao milho como algo que representa muito mais que alimentação, mas que significa ainda fonte de energia e de produção de bioprodutos. A diretora da National Corn Growers Association lembrou a importância cultural do grão nos Estados Unidos. Já o diretor da Abramilho destacou a relevância social para o Brasil.
O vice-presidente da U.S Grains Council citou a revolução que o etanol de milho trouxe para os Estados Unidos. E, para concluir, o presidente da Maizall apresentou a mensagem de que a entidade continuará disseminando informações baseadas em ciência para levar desenvolvimento e alimento para o resto do mundo, conforme seus pilares de atuação.