Mesmo após as medidas anunciadas no último dia 26 pelo primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, como o comprometimento do governo em tentar impedir o acordo da União Europeia com o Mercosul e também o descarte do plano de taxação sobre o diesel agrícola no país, os fazendeiros, sob orientação dos sindicatos agrícolas da França, seguem protestando. Dentre as exigências, eles clamam por mais políticas protecionistas, aumento no preço de suas mercadorias e redução da burocracia.
Nesta quarta-feira (31), 18 manifestantes chegaram a ser presos por interrupção de tráfego nas proximidades da comuna de Rungis, localizada nos subúrbios ao sul de Paris e onde se encontra um dos maiores mercados atacadistas de alimentos do mundo, o Marché d’Intérêt National de Rungis, que abastece a capital francesa. Justamente por isso, o governo já havia alertado os fazendeiros para que eles não se aproximassem do local. No entanto, mesmo com essas prisões, os protestos seguiram avançando com cada vez mais tratores rumo a Paris e Lyon, ainda que sob ameaça de intervenção policial por parte da gestão de Emmanuel Macron. Não obstante, o presidente francês ordenou que se reforce o policiamento nos aeroportos da capital, bem como no mercado atacadista da Cidade Luz.
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Um dos grandes entraves, porém, ao governo de Macron na busca por atender às demandas do setor agrícola parece ser o fato de que uma considerável parcela das políticas que afetam diretamente o produtor francês é definida pelo Parlamento Europeu, e não pela própria França. Desse modo, a soberania nacional daquele país fica subjugada por políticos estrangeiros do restante da Europa – eleitos também por outros estrangeiros -, fator esse que, há exatos quatro anos – em 31 de janeiro de 2020 -, motivou a saída do Reino Unido da União Europeia no chamado Brexit, em uma votação realizada dentro do território inglês e que teve como lema, pelo lado vencedor, a expressão “take back control” (reassumir o controle), em referência a tomar de volta o controle sobre o próprio país, uma vez que as leis criadas pelo Parlamento Europeu estavam se sobrepondo às leis internas do Reino Unido, suprimindo, assim, a sua soberania nacional frente à vontade de políticos oriundos de nações estrangeiras, tal qual ocorre na França.
Apesar disso, porém, essa é a realidade francesa e, para tentar contornar a situação, Macron está com uma reunião marcada para esta quinta-feira (31) com a atual presidente da Comissão Europeia, a belga Ursula von der Leyen. Dentre as pautas, além da tentativa de impedir o acordo com o Mercosul, Macron deve buscar negociar a redução nas importações de alimentos produzidos na Ucrânia, a fim de proteger a economia agrícola francesa, que é o maior país produtor dentro da União Europeia.